Reminiscências

Carnês e mais carnês...

Está havendo faxina na minha casa. Sempre que isso acontece descubro alguma coisa que julgava irremediavelmente perdida. Desta vez não foi diferente. Encontrei, ou melhor, minha empregada encontrou dois cortes de tecido. Eu sinceramente não lembrava da existência deles. Examinei-os cuidadosamente. Um é azul marinho e o outro azul claro. São de um tipo de tecido que teve grande popularidade, tropical brilhante. Ambos trazem na borda a marca “Erontex”. Nos anos da década de 1960, cortes de casimira eram vendidos através de carnês. Minha avó comprou esses dois para mim. Coisa de avó, pensamento de desejo. Ela me dava anualmente um prendedor de gravata, eu nunca usei gravata, salvo num período curto em que trabalhei como corretor de imóveis no Clineu Rocha. Nunca tive interesse nos cortes, mas confesso que acompanhei atentamente os sorteios dos automóveis “Simca Chambord”, que eram gentilmente ofertados aos proprietários dos carnês. Durante dois anos desejei ardentemente ganhar um Simca Rallye. Ainda bem que não ganhei, tais carros eram dispendiosos, dizem que mais do que amantes argentinas. Já mais velho e sabendo alguma coisa da vida, convenci minha avó a não comprar mais carnês Erontex. Tal decisão deve ter pesado na falência da empresa. O tecido não era ruim, mas acabava ficando caro. Achei melhor comprar ternos prontos na “A Exposição”, embora nunca o tenha feito. Vovó concordou, daquele dia em diante passou a comprar carnês do Baú da Felicidade. E nunca mais perdeu um único programa do Sílvio Santos. Ainda tenho o descascador de batatas referente ao carnê que ela quitou em 1965. Ganhei de presente no Natal. Onde será que está? Quem sabe na próxima faxina apareça.

Sidney Borges

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