Perguntas sobre as ciclofaixas

Um leitor enviou as questões abaixo postadas sobre as ciclofaixas. Pela seriedade do tema e pertinência do questionamento, torno públicas as dúvidas.

Sidney Borges

Notícias da Prefeitura
Reunião entre comerciantes e Prefeitura esclarece Projeto Cicloviário

Educação e incentivo com uma mudança de conceito em relação ao uso da bicicleta fazem parte do processo de implantação do projeto

Técnicos da Prefeitura de Ubatuba se reuniram novamente com os comerciantes das ruas Thomaz Galhardo e Conceição para esclarecimentos das dúvidas sobre a implantação do Projeto Cicloviário, que terá início no dia 6 de março, com a colocação de ciclofaixas nestas duas vias, consideradas de maior movimento ciclístico no município (1).
Cerca de 230 comerciantes foram convidados para participar da reunião que aconteceu na última segunda-feira, 13, na Escola Anchieta. Os presentes, cerca de 30, acompanharam a apresentação do projeto em slides, com mapas esclarecedores sobre os locais onde serão implantadas as ciclovias, ciclofaixas, bike-lanes e calçadas, que vão totalizar 35 km de infra-estrutura para circulação de bicicletas em Ubatuba.
Durante a reunião houve a apresentação do estudioso e ativista do uso da bicicleta como principal meio de transporte, Arturo Alcorta. Há mais de vinte anos trabalhando para tornar o uso ciclístico mais viável e seguro, Arturo acredita na transformação social, por meio da educação para melhorar o conforto do ciclista e integrá-lo ao sistema viário da cidade. “A questão das bicicletas no Brasil ainda é muito precária, mas com a saturação dos veículos motorizados e coletivos, é necessário que se comece a estruturar a vida dos usuários de bicicleta (2). Precisa haver uma mudança de conceito, quebrar o mito de que bicicleta é transporte da classe baixa. Muito pelo contrário. (3) Na Europa, por exemplo, o uso das bicicletas é considerado política pública de meio de transporte porque melhora a saúde, a qualidade de vida, o desempenho no trabalho e diminui a violência no trânsito” (4), explica Arturo, que só usa bicicleta para se locomover, mesmo residindo em uma cidade grande como São Paulo.
Uma das premissas do projeto é a educação. Segundo Alcorta, é necessário primeiro ensinar as leis de trânsito, respeitando a linguagem local, havendo assim uma mudança gradual, com paciência e persistência. “Quando se proporciona uma boa qualidade para as pessoas, elas respondem automaticamente. Se os ciclistas se sentirem respeitados provavelmente melhorarão suas atitudes” (5), acrescenta o estudioso que afirmou que todas as cidades que implantam o sistema cicloviário crescem em qualidade, atendendo a todos que não utilizam veículos motorizados, o que equivale a cerca de 15% da população (6).


35 km de infra-estrutura cicloviária

O arquiteto responsável pela elaboração do Programa Cicloviário de Ubatuba, Sérgio Bianco, que também é consultor do Ministério das Cidades nessa área, apresentou as propostas para estruturar a circulação, capacitar o ciclista e trabalhar o respeito da bicicleta pelos usuários dos outros meios de transporte. O projeto apresentado contém alterações sugeridas pelos comerciantes em reunião anterior e deve acrescentar outras também propostas por eles nesta última reunião. (7) “Na Thomas Galhardo, por exemplo, passam cerca de 12 mil bicicletas por dia no horário comercial e Ubatuba precisa se tornar conhecida como referência no Brasil em questão de sistema cicloviário” (8), diz Bianco.
A estrutura de ciclovias e ciclofaixas vai totalizar 35 km de infra-estrutura para o ciclista. O projeto engloba desde a Praia Grande até o Perequê-Açú, com ligação para a Estufa I e II, integrando o que já existe, como a ciclovia que leva ao bairro do Ipiranguinha, com o novo projeto. “Se o ciclista tiver toda a educação e infra-estrutura terá cidadania plena e muda-se o conceito de que só usa bicicleta quem não pode ter um carro (9) e passa-se a entender que ser ciclista é ser um cidadão do século XXI” (10), acrescentou o arquiteto.


Estacionamento

Devido à uma das maiores preocupações dos comerciantes ser a perda do estacionamento em um dos lados das ruas para a colocação das ciclofaixas, o secretário municipal de Arquitetura e Planejamento Urbano, Rafael Ricardi Irineu, esclareceu aspectos referentes à alternativas para que não haja nenhum tipo de prejuízo. Foram mostradas fotos de locais que atualmente estão indevidamente ocupados e mal aproveitados que deverão se tornar bolsões de estacionamento. Este é o caso da frente da piscina municipal e do lado do ginásio Tubão, por exemplo. (11)
A Prefeitura vai também desocupar o pátio de estacionamento de caminhões para que se torne uma praça (12) com interligação para quem vem de bicicleta do Ipiranguinha para a Rua Conceição. “Será um ganho de qualidade muito grande”, diz o secretário, que anunciou a possibilidade de criação de mais de 80 vagas para estacionamento na Praça 13 de Maio. (13)
PMU
posted by sidney borges at
8:59 AM

(1) Creio que o foco nessas ruas se deve à maior intensidade geral de tráfego nelas, principalmente de veículos automotores (entrada e saída principais da cidade), o que gera maiores conflitos com as bicicletas. O monitoramento também de outras ruas poderia confirmar se estas são as de maior movimento ciclístico (acho que não).

(2) A questão das bicicletas no Brasil não é precária – outras cidades têm adotado soluções urbanísticas bem estruturadas e já antigas. Ubatuba é que ainda não tem essas soluções.

(3) Um estudo da situação sócio-econômica dos usuários de bicicleta em Ubatuba poderia definir essa questão de “transporte da classe baixa”. Uma coisa é disciplinar o tráfego, outra é estimular o uso da bicicleta (embora ambas ações estejam interligadas, já que a disciplina poderá gerar o estímulo).

(4) Citar a Europa chega a ser acintoso. Mas a questão é de conforto, em relação ao clima, principalmente. Conheço pessoas que usam normalmente a bicicleta (ou motocicleta) para o trabalho, mas que não abrem mão do carro, em dias chuvosos (raros aqui).

(5) Atualmente ao menos, quando o ciclista pensa em “respeito” a ele, pensa em privilégio, em fazer o que “lhe dá na telha” exigindo que os outros veículos o “respeitem”. A primeira ação deveria ser ensinar a eles o respeito pela legislação.

(6) Essa estatística refere-se a Ubatuba?

(7) Nenhum exemplo foi dado em relação às propostas e alterações. O público em geral, creio, inclusive e principalmente os ciclistas, continua leigo. Por falar nisso, os ciclistas foram ouvidos?

(8) Seria uma boa coisa, até para o turismo, mas por quê “precisa”? Precisamos é resolver nossos problemas. Se isso nos tornar uma referência, melhor.

(9) Ver item 4 acima.

(10) Ver item 4 acima, também.

(11) Não parece meio longe dos pontos de destino dos veículos? Bancos, lojas?

(12) O pátio já não era originalmente uma praça? Não existe até questionamento judicial sobre sua mudança de uso?

(13) Será possível usar uma praça, mesmo parcialmente, para vagas de estacionamento? Não seria uma mudança de uso proibida pela Constituição do Estado?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu