Lula se fortalece

Murillo de Aragão
Todos os institutos de pesquisa de opinião estão captando a recuperação do presidente Lula na corrida sucessória. Em dezembro, o Ibope mostrava Lula com 38% das intenções de voto e José Serra com 44%. O Datafolha trazia uma distância ainda maior entre os dois. O prefeito de São Paulo vencia Lula com 50% contra 36%. Hoje, segundo os dois institutos, a distância é de 3% e 8%, respectivamente.
Ao mesmo tempo, são divulgadas pesquisas positivas para o governo. Em três anos de governo Lula, a produção industrial teve alta de 11,5%. Em quatro anos de governo FHC o crescimento foi 10,5%. A indústria automobilística também apresentou bom resultado em janeiro.
A última sondagem do Datafolha mostra que Lula está sustentando sua popularidade nas classes C, D e E. Calcula-se que as medidas de estímulo à construção civil possam ajudar o governo Lula a aumentar o número de empregos no país.
Mas o presidente também caminha para conquista de outros setores. Fará em breve o anúncio da correção da tabela do imposto de renda para pessoas físicas para agradar a classe média.
O pacote de medidas de incentivo fiscal para investidores estrangeiros que aplicam no mercado financeiro brasileiro também deve repercutir muito bem, podendo aumentar ainda mais o fluxo de dólares para o país. O risco país nunca esteve em patamares tão baixos.
É possível que a taxa de juros nominal atinja, antes das eleições em outubro, o patamar histórico de 15%. Na gestão FHC, entre janeiro e fevereiro de 2001, o melhor resultado foi de 15,25%.
Todo esse conjunto de fatores pode seduzir partidos como o PMDB, PP, PL e PTB a apoiá-lo. Com isso, Lula também começa a afastar o fantasma de ter uma coligação limitada ao PC do B e ao PSB.
Ao mesmo tempo, a oposição está de certa forma perdida entre definir seu candidato e tentar suas últimas armas na CPI dos Correios e dos Bingos. Também terá que achar um discurso sólido, capaz de convencer o eleitor. Sustentar a campanha apenas na crise política pode não ser suficiente.
Como muito bem lembrou José Dirceu em entrevista ao jornalista Ricardo Noblat, o fato de Orestes Quércia liderar as pesquisas em São Paulo coloca em dúvida até que ponto a questão ética irá influenciar no voto. Ainda mais quando se sabe que as denúncias de corrupção não colaram no presidente Lula.
Pesquisas eleitorais são altamente dinâmicas. Em uma das simulações da pesquisa Datafolha de fevereiro de 2002, Roseana chegou a ter 28% nas intenções de voto para primeiro turno, e 51% contra 39% de Lula nas simulações de 2º turno. Em julho de 2002, o Datafolha mostrou empate técnico entre Lula (35%) e Ciro (32%) no primeiro turno. Em agosto (15 e 16), nas simulações de segundo turno, Ciro apareceu com 50% e Lula com 32%.
As ondas Roseana Sarney e Ciro Gomes não se sustentaram por muito tempo. Em março de 2002, quando Roseana Sarney ainda liderava com 46% contra 42% de Lula, oito agentes e dois delegados da Polícia Federal, com mandado de busca e apreensão nas mãos, entraram no escritório da empresa Lunus. Fizeram uma devassa completa. Além de documentos, os policiais encontraram nas gavetas R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo. O dinheiro foi mostrado ostensivamente pela imprensa. Roseana Sarney começou a despencar nas pesquisas e no dia 13 de abril ela desistiu de concorrer.
Ciro Gomes, em agosto, começa a cair nas pesquisas pelo seu destempero. No dia 3 de agosto, em entrevista a rádio de Salvador, ele mandou um ouvinte “largar de ser burro”. No fim de agosto, declarou que o principal papel de sua companheira, a atriz Patrícia Pillar, em sua campanha, era o de dormir com ele.
Portanto, é bem verdade que muita coisa pode acontecer. O jogo não está fácil para a oposição, que até bem pouco tempo cantava vitória. E Lula, no exercício do mandato, com uma aliança forte e com a economia funcionando bem continua, pelo menos temporariamente, favorito.

Murillo de Aragão é cientista político e analista sênior da Arko Advice - Análise Política.
www.murillodearagao.slg.br

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