Editorial

Negociar é preciso...

A obra da feirinha foi paralisada. Mais uma vez a Justiça teve de entrar em cena. Agora vamos assistir ao velho filme de sempre. Enquanto não se chegar a uma decisão, teremos o trambolho dos trambolhos dentro do tapume dos tapumes, produzindo a sujeira das sujeiras e a indignação das indignações. E a árvore caiu inutilmente. Ontem um amigo me ligou perguntando o que eu achei dos acontecimentos da Praia Grande. Referia-se à retirada das mesas. Respondi que não posso escrever com base em convicções idealistas. Antes de dar uma opinião preciso conversar com os envolvidos, saber deles o que há, como as mesas retiradas foram parar onde estavam e qual foi o impacto da retirada. Afortunadamente, tive o privilégio de viajar e conhecer outros países, outras culturas. Em todos os lugares que visitei, notei a existência de comerciantes que exploram negócios similares aos de Ubatuba. Do gênero dos quiosques. Só que com regras bem claras. Em Veneza você não compra cigarros depois do pôr-do-sol. Os quiosques que vendem tabaco fecham. E só eles podem vender tabaco. Assim manda a lei que é rigorosamente obedecida. A opção para tabagistas inveterados é comprar nos hotéis, que cobram dez dólares por um maço. Comerciantes são pessoas simples, querem apenas trabalhar e faturar. Se houver regras eles as respeitarão. Nasci numa família de comerciantes, sei como pensam, não passa pela cabeça deles afrontar autoridades ou ir contra a lei. Seria mau negócio. Alguém poderia me perguntar como chegamos ao estado atual, com a cidade praticamente sob intervenção da Justiça. Tenho absoluta convicção que foi fruto de omissão da sociedade. Os poderes constituídos nos conduziram ao impasse. Com a complacência de “quase” todos. Sempre há alguns que lutam pela verdade. Em Ubatuba as pessoas têm medo de se manifestar. Eu diria mais. Têm pavor. Calam, e ao fazer isso, consentem. Certamente poderíamos ter chegado a um acordo sobre como ocupar a Praia Grande sem recorrer à Justiça. Sei que costurar acordos não é tarefa fácil. Demandaria dias e dias de negociações. Mas teria sido mais produtivo. Vou arriscar um prognóstico, o que não é do meu feitio. Quando as partes ocuparem seus respectivos lugares ao redor de uma mesa, dispostas a lutar por soluções reais, aí a luz começará a clarear o fim do túnel. Ou isso ou continuarão as intermináveis demandas. E os desgastes decorrentes.

Sidney Borges

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