Saint-Exupéry (de terno) e Léon Antoine (de chapéu), em Cap Juby

A saga exuperyana foi confirmada pelo historiador e ex-prefeito Filinho: "Quanto o avião desceu houve aquele burburinho, o aparelho foi cercado pela população. Um húngaro, Julio Kertz, tentou falar com o piloto em alemão, mas ele não entendeu". Ele lembra que "no dia seguinte os franceses ainda passaram a pé pela frente de casa, junto à praça da Matriz, se despediram com um au revoir e foram embora. Não sei se passaram telegrama no correio, acho que não, pois se a própria Air France (nome da Aero-Postale de 1933 em diante) tinha estação telegráfica não precisariam disto". Filinho informou que não há mais registro dos livros do hotel, porque seus proprietários morreram. Mas conseguiu descobrir o telegrafista Gilberto Brandão, da Air France, morando em Niterói, e este confirmou numa carta "a estada de Saint-Exupéry entre nós", embora sem conseguir precisar exatamente a data.
A "estada" de Saint-Exupéry está fartamente documentada em fotografias. Umas foram feitas pelo próprio piloto Léon Antoine e outras por um alemão (aliás, nascido na Guatemala), Herman Porcher, também já falecido mas ouvido por Kawall. O alemão estava na cidade como turista e mais tarde compraria "metade da praia de Santa Rita".
"Localizei esse Porcher morando em Santo Amaro, me diziam que ele gostava de freqüentar os bares do bairro e levei tempo até encontrá-lo. O garçom de uma choperia me deu o telefone dele, marcamos um encontro em seu escritório de numismática - ele trocara a fotografia pelo comércio de moedas. Que descoberta! Porcher não só relatou o caso dos aviadores como, depois de me descrever o jantar na companhia deles, mostrou quatro fotografias batidas na manhã de sua partida. Em Ubatuba, onde se hospedava no Hotel Idalina e planejava caçadas nas matas vizinhas com alguns amigos, usando culotes, perneiras e capas sobradas da Revolução de 32, o alemão lembrou-se de que eram por volta de cinco horas e já começava a escurecer quando o avião desceu na praia. Falou com os tripulantes em francês, ouviu deles que vinham de Natal, fazendo várias escalas e levando malas postais até Santos".
- Quando os franceses pediram vinho o prefeito foi buscar. O mais alto, ao ver a garrafa, exclamou: 'Mas onde o senhor arranjou isto? Na França este vinho custa um dinheirão!' Conversamos sobre aviões e a linha aérea francesa para a América do Sul e também sobre os vôos do Zeppelin, que eu tinha fotografado em São Paulo naquele mesmo ano. Depois do jantar fomos ver o avião na praia, um caiçara entrara na cabine e estava divertindo-se. "Cuidado, João, o avião pode levantar vôo", alguém gritou, e ele saiu correndo de medo".

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