Kawall, fim de um mito

Kawall começou sua pesquisa a partir de uma notícia publicada em 9 de novembro de 1964. "Essa história foi criada como um conto de fadas. Em 1933, Ubatuba, isolada no Litoral Norte, onde só se chegava por mar ou então pelo céu - e aí só por acidente - estava reduzida a 110 casas, todas mais ou menos em ruínas, e em dez anos poderia acabar. Matava-se peixe a pau e apanhava-se milhares de tainhas cujos cardumes vinham dar à praia e eram enterrados como sobras. Quando o aviãozinho desceu, um grupo logo correu ao Itaguá e cercou a nave. Hélice parada, os tripulantes desceram, foram guiados por um agitado cortejo popular até a casa do radiotelegrafista da Aero-Postale, Gilberto Nogueira Brandão. Léon Antoine e Chauchat queriam ficar hospedados em sua casa, mas o telegrafista não tinha acomodação suficiente e isto chegou até a causar um pequeno desentendimento".
A partir daí, Antoine e Chauchat foram considerados hóspedes oficiais da cidade pelo então prefeito Deolindo dos Santos (aliás, tio do historiador Filinho) e levados para o Hotel Felipe, de pau-a-pique, porém de linhas coloniais, hoje já demolido. Nas lembranças de Antoine, levado a Ubatuba 52 anos depois por Kawall, ele e Chauchat viveram uma noite memorável, regada por duas garrafas de um inesquecível vinho Sauternes, raro e caro até mesmo na França.
Após o justo sono, os franceses, bem cedinho, no dia seguinte, voltaram à praia, com o propósito de retirar do avião uma parte do combustível, exatamente 200 litros de querosene, ofertados à população. Antoine se lembra de que chegaram com todo o tipo de vasilhame, de latas até penicos. Depois todos, com compreensível entusiasmo, ajudaram a empurrar o pequeno avião (um Latecoère) pela praia, até que o aparelho adquirisse velocidade suficiente para pegar e decolar. "Tomou rumo Sul, após uma suave evolução sobre a baía de Ubatuba". A cena jamais seria esquecida, incorporou-se ao folclore local. A crônica ubatubense registra ainda dois outros casos de ruidosas descidas de aviões em suas praias, mas nada que provocasse o mesmo frisson.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu